top of page

JULGAMENTO DA SRA ISABELLE - Texto premiado da acadêmica Evan Bessa

  • Foto do escritor: Luciano Dídimo
    Luciano Dídimo
  • 21 de set.
  • 3 min de leitura


Evan Bessa recebendo a premiação da presidente da AJEB - CE, Ana Vládia Mourão
Evan Bessa recebendo a premiação da presidente da AJEB - CE, Ana Vládia Mourão

A Academia Fortalezense de Letras celebra com alegria a conquista da acadêmica Evan Bessa, que obteve o 1º lugar no Concurso Literário promovido pela AJEB (Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil), dedicado à memória e ao legado de Auri Moura Costa, primeira juíza e desembargadora do Ceará, pioneira na magistratura nacional.

O texto premiado, intitulado “Julgamento da Sra.Isabele”, revela não apenas a sensibilidade literária da autora, mas também sua capacidade de articular arte, reflexão e compromisso social. Ao lançar luz sobre questões humanas e jurídicas, Evan Bessa homenageia a trajetória inspiradora de Auri Moura Costa, reafirmando a importância da mulher na história da Justiça brasileira. JULGAMENTO DA SRA ISABELLE


Naquela manhã encoberta, o Fórum Atemporal da Imaginação recebia um caso peculiar: estava Isabelle frente ao tribunal, acusada de “ter a ousadia de afirmar que as mulheres podem ocupar qualquer espaço que os homens ocupam”. O murmúrio na sala parecia ressoar séculos de desentendimentos, mas também uma pitada de curiosidade. O público presente estava em alvoroço.

No alto da bancada, trajando toga preta e com um olhar determinado, encontrava-se a Juíza Auri Moura Costa, pioneira no Judiciário do Ceará. Ela transmitia a tranquilidade de quem já havia enfrentado diversos preconceitos para alcançar aquele momento. Seu nome era recordado nos anais da história como um símbolo de bravura: primeira mulher a se tornar primeira juíza no Brasil e a primeira Desembargadora no Ceará.

— Sra. Isabelle — começou a juíza, ajeitando os óculos.

— A promotoria alega que você insiste em articular a ideia de que uma mulher pode ocupar qualquer posição de liderança e desempenhar as mesmas funções que um homem. — Qual é sua defesa?

Levantei-me, sem um advogado ao meu lado, confiando apenas em minhas próprias experiências como evidência. A responsabilidade por minha defesa estava inteiramente sobre meus ombros. Com a alma de poetisa, falei, com voz calma, mas resoluta:

— Meritíssima, cresci ouvindo sobre limites invisíveis ditando o que as mulheres podiam ou não fazer. No entanto, desde cedo, as palavras me mostraram que a realidade pode ser reescrita a cada dia. Se um homem pode governar, julgar, criar e ensinar, então por que uma mulher não deveria ser capaz de fazer o mesmo? Somos todos seres humanos, e nossas habilidades não se limitam ao gênero, mas sim enraizadas em nossa coragem de aprender, liderar e transformar.

O público, em silêncio, parecia ponderar. Auri Moura Costa fez uma pausa, lembrando-se de sua própria trajetória, dos comentários que escutou ao prestar concurso, das olhadas desconfiadas e do pioneirismo que carregou.

— Defesa registrada anunciou a Juíza.

— Deseja acrescentar algo?

— Sim, Excelência — respondi, com brilho nos olhos.

— Ser mulher não é sinônimo de fragilidade, mas de força e possibilidade. Não estou aqui para desafiar ninguém, apenas para lembrar que, se uma pessoa tem talento e desejo de servir, deve ter chance de fazê-lo, independentemente de ser homem ou mulher.

A Juíza fechou a pasta de documentos com calma. O silêncio se estendeu por alguns segundos que pareciam séculos. Então, erguendo-se, Auri Moura Costa proferiu a sentença:

— Inocentada. Declaro que não há crime algum em afirmar que a mulher pode e deve estar onde quer que deseje. Se a História nos mostra preconceitos e barreiras, também nos revela conquistas e pioneirismo. Eu mesma, quando iniciei minha carreira, ouvi vozes dizendo que o lugar de uma mulher não era no tribunal. Hoje, esse lugar me pertence tanto quanto a qualquer homem.

Alguns aplausos tímidos surgiram no plenário. Auri continuou firme:

— Que este julgamento sirva de exemplo. As mulheres são capazes de ocupar todos os espaços, não porque querem ser melhores do que os homens, mas porque são seres humanos completos, com direito a participar e a liderar. Negar isso é negar a própria evolução da sociedade.

Um brilho de emoção correu pelos rostos presentes. Ao final, a Juíza bateu o martelo. Sorri em gratidão, e, por um instante, olhamo-nos com cumplicidade: duas mulheres em cenários distintos, mas unidas pela certeza de que o caminho do progresso não tem dono.

A plateia, antes reticente, ergueu-se em aplausos.

No pátio do Fórum, o vento parecia soprar uma nova história, enquanto eu, escritora, e a Juíza deixaram o recinto com a sensação de que, naquela manhã, a justiça fora mais do que uma sentença: tornara-se uma homenagem à força feminina.


Evan Bessa

 
 
 

Comentários


bottom of page